segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Recordarás aquela quebrada caprichosa


IV

RECORDARÁS aquela quebrada caprichosa
onde os aromas palpitantes subiram,
de quando em quando um pássaro vestido
com água e lentidão: traje de inverno.

Recordarás os dons da terra:
irascível fragância, barro de ouro,
ervas do mato, loucas raízes,
sortílegos espinhos como espadas.

Recordarás o ramo que trouxeste,
ramo de sombra e água com silêncio,
ramo como uma pedra com espuma.

E aquela vez foi como nunca e sempre:
vamos ali onde não espera nada
e achamos tudo o que está esperando.

Pablo Neruda, 1904-1973
NERUDA, P. Cem sonetos de amor. Porto Alegre : L&PM, 1997.
Tradução de Carlos Nejar.

Nenhum comentário: