sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Seremos como dois lírios enfermos

Seremos como dois lírios enfermos
Que morrem numa jarra abandonada.
O acaso nos mostrou a mesma estrada
E sonhamos ao luar dos mesmos ermos.

Abençoou-nos o mesmo azul sem termos,
Ao descambar da véspera sagrada.
E hei de ter, e terás, ó bem-amada,
Tranqüilidade e paz para morrermos.

Ah! tu bem sabes que não tarda o outono...
Perder-nos-emos pela escura brenha,
Pelos ínvios sertões do eterno sono.

E que nos baste, amor, termos vivido
Em meio destes corações de penha
Sem o lamendo inútil de um gemido!

Ilustração:
Lilium rubescens / John Game, edited by Denis Barthel. [2007].