sexta-feira, 2 de julho de 2010

Não, já não amo mais os passarinhos

SONETO DO AMOR DEMAIS

Não, já não amo mais os passarinhos
A quem, triste, contei tanto segredo
Nem amo as flores despertadas cedo
Pelo vento orvalhado dos caminhos.

Não amo mais as sombras do arvoredo
Em seu suave entardecer de ninhos
Nem amo receber outros carinhos
E até de amar a vida tenho medo.

Tenho medo de amar o que de cada
Coisa que der resulte empobrecida
A paixão do que se der à coisa amada

E que não sofra por desmerecida
Aquela que me deu tudo na vida
E que de mim só quer amor - mais nada.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

O triste coração que eu trago, é tão velhinho

Meu coração

O triste coração que eu trago, é tão velhinho,
E tanto tem amado, e tem vivido tanto,
Que não suporta mais o fogo de um carinho,
Nem de outro coração o cálido quebranto.

Às vezes, alta noite, ouço-o chorar sozinho,
Do meu peito escondido ao último recanto,
Assim como quem sente a dor de algum espinho
Que o dere, e quer leni-la , ao afagá-la em pranto.

É ele! É o coração tristíssimo, que chora
De saudade de alguém, que o fez antegozar
Um grande, um santo amor, e que se foi embora.

E escuto-o palpitar, tão leve, que parece
Um ser que sente frio, e treme, a murmurar
Num soluço infinito, os restos de uma prece...

Alceu Wamosy, 1895-1923