segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Quanta mulher no teu passado, quanta!


Supremo enleio

Quanta mulher no teu passado, quanta!
Tanta sombra em redor! Mas que me importa?
Se delas veio o sonho que conforta,
A sua vinda foi três vezes santa!

Erva do chão que a mão de Deus levanta,
Folhas murchas de rojo à tua porta...
Quando eu for uma pobre coisa morta,
Quanta mulher ainda! Quanta! Quanta!

Mas eu sou a manhã: apago estrelas!
Hás de ver-me, beijar-me em todas elas,
Mesmo na boca da que for mais linda!

E quando a derradeira, enfim, vier,
Nesse corpo vibrante de mulher
Será o meu que hás de encontrar ainda...

Florbela Espanca, 1894-1930

Poemas de Florbela Espanca, Martins Fontes, 1996 - S. Paulo, Brasil

Extraído de http://zezepina.utopia.com.br/poesia/poesia003.html acesso em 08 set. 2008.

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