quarta-feira, 7 de maio de 2008

A fim, oculto amor, de coroar-te


A COROA DE ROSAS

A fim, oculto amor, de coroar-te,
de adornar tuas tranças luminosas,
uma coroa teci de brancas rosas,
e fui pelo mundo aofra, a procurar-te.

Sem nunca te encontrar, crendo avistar-te
nas moças que encontrava, donairosas,
fui-as beijando e fui-lhes dando rosas
da coroa feita com amor e arte.

Trago, de caminhar, os membros lassos,
acutilam-me os ventos e as geadas,
já não sei o que são noites serenas...

Sinto que vais chegar, ouço-te os passos,
mas ai! nas minhas mãos ensangüentadas
uma coroa de espinhos trago apenas!

Eugênio de Castro, 1869-1944

Livro dos sonetos : 1500-1900 : (poetas portugueses e brasileiros) / org. Sergio Faraco. -- Porto Alegre : L&PM, 2002. -- (Coleção L&PM pocquet; 3).

Um comentário:

André Cavalcante disse...

Muito belo e profundo, todo o charme que um soneto deve ter!