Duas Almas
Ó tu, que vens de longe, ó tu, que vens cansada,
Entra, e sob este teto encontrarás carinho:
Eu nunca fui amado, e vivo tão sozinho,
Vives sozinha sempre, e nunca foste amada...
A neve anda a branquear, lividamente, a estrada,
E a minha alcova tem a tepidez de um ninho.
Entra, ao menos até que as curvas do caminho
Se banhem no esplendor nascente da alvorada.
E amanhã, quando a luz do sol dourar, radiosa,
Essa estrada sem fim, deserta, imensa e nua,
Podes partir de novo, ó nômade formosa!
Já não serei tão só, nem irás tão sozinha:
Há de ficar comigo uma saudade tua...
Hás de levar contigo uma saudade minha...
Alceu Wamosy, 1895-1923
Extraído de: Senna, JA. Um célegre soneto à luz da estilística. Revista Philologus. Rio de Janeiro, Ano 12, n. 34. Disponível em http://www.filologia.org.br/revista/34/14.htm acesso em 15 Dez. 2008.
Um comentário:
Amo esse soneto, como ele fala bem à minha alma errante!
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